A Casa onde saberes se encontram

A Casa Ʉhtã Bo'ó Wi'í — que significa “Casa de Pedra de Quartzo Branco” na língua Ye’pá Mahsã — nasceu em 2024, em São Gabriel da Cachoeira, no Alto Rio Negro. Mas seu caminho começou antes disso, com a construção de um espaço físico, terminado no fim de 2022, pertencente ao Clã Ũremirĩ Sararó , localizado perto do aeroporto regional. A escolha do local foi feita para facilitar o acesso tanto das comunidades indígenas quanto de visitantes de outras partes do Brasil e do mundo. São Gabriel da Cachoeira está no extremo noroeste do Brasil, às margens do Rio Negro, dentro da Floresta Amazônica.

É um município gigante, com quase 110 mil km² , e é habitado por cerca de 42 mil pessoas , sendo 90% delas indígenas . Lá vivem 23 povos , falantes de entre 20 e 23 línguas diferentes , distribuídos em cinco grandes famílias linguísticas: Tukano Oriental, Aruak, Yanomami, Japurá-Uaupés (Maku) e Tupi (Nheengatu). Além da riqueza cultural, o município também tem grande importância ambiental e econômica. É dono da maior reserva de nióbio do mundo , vive basicamente da agricultura familiar, extrativismo e pesca, e tem um grande potencial turístico ainda pouco explorado.

Foi nesse cenário único que surgiu a Ʉhtã Bo'ó Wi'í — primeiro como Casa Ancestral , depois como Instituto. Foi criada como um ponto de encontro entre os saberes antigos e as novas formas de expressão e aprendizado. Um lugar onde os povos possam trocar conhecimentos, fortalecer suas línguas e espiritualidades, e preparar as próximas gerações para enfrentar os desafios do tempo atual. O Instituto Ʉhtã Bo'ó Wi'í veio para ampliar essa missão. Ele organiza e dá continuidade às ações que começaram na Casa, mas agora com alcance maior: nas comunidades, nos rios, nos projetos educativos, culturais e ambientais .

O Instituto

Na Ʉhtã Bo'ó Wi'í, muitas pessoas se encontram para aprender, ensinar e caminhar juntas. É um lugar onde os saberes antigos se encontram com novas formas de expressão, e onde cada encontro é uma oportunidade de troca e fortalecimento. Nesta casa, vivem-se momentos de aprendizado profundo, onde jovens e adultos, indígenas e não indígenas, têm chance de explorar suas histórias, línguas e espiritualidades. Ali também se aprende sobre as plantas medicinais, sobre o jeito certo de viver com a floresta, sobre arte, e das palavras contadas com verdade. É um espaço aberto para quem busca compreender melhor a vida comunitária, os modos de cura e os ensinamentos dos ancestrais. Pessoas de dentro e de fora chegam com desejo de aprender, e saem com olhos mais atentos para a importância de proteger a floresta e a cultura dos povos indígenas.

Hoje, o Instituto Ʉhtã Bo'ó Wi'í surge para atuar em diversas frentes:

Promover a cultura e a arte indígena; Desenvolver projetos educacionais voltados para crianças, jovens, adultos e idosos, com formações em audiovisual, tecnologia, línguas e práticas sustentáveis; Fortalecer a autonomia das comunidades, apoiando a geração de renda, o turismo étnico, a agroecologia e o artesanato; E defender a floresta e seus bens naturais, protegendo plantas medicinais, frutos tradicionais e locais invioláveis, promovendo o reflorestamento com espécies próprias da região.

O Instituto constrói parcerias com comunidades, federações, associações, governos, universidades e organizações sociais, sempre com respeito aos modos de vida próprios e com o objetivo de criar pontes entre tradição e inovação. Seu trabalho se baseia em três pilares fundamentais: memória, educação e autonomia.

Porque cuidar da memória é garantir que os saberes sigam vivos; investir na educação é preparar os jovens para andarem com suas próprias pernas; e buscar a autonomia é dar condições para que cada povo decida seu próprio futuro.